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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Não atuamos pela cisão

           Quase nenhum estudioso da psicologia ousaria negar a dificuldade histórica de concebê-la como uma ciência una. A diversidade marca esse campo do saber e se mostra evidente desde a concepção do que seja essa ciência até os métodos e as abordagens teóricometodológicas que sustentam a produção do conhecimento e as respectivas práticas. 
            Talvez um dos campos de produção científica e de atuação prática que se constitui alvo preferido de controvérsias seja o que tem como objetos o “trabalho” e as “organizações” nas quais ele frequentemente ocorre, historicamente tratados como partes de um mesmo fenômeno. Deparamo-nos hoje, novamente, com a difusão de um discurso promotor daquela cisão, veiculado por pessoas ligadas direta ou indiretamente a grupos detentores de recursos políticos e financeiros, que criaram bases de poder duradouras em algumas instâncias institucionalizadas de interlocução da psicologia brasileira. Tal discurso é de que só será possível uma psicologia do trabalho plenamente comprometida com os interesses do trabalhador, se houver uma cisão com uma psicologia das organizações, que estaria supostamente comprometida com os interesses do capital e contra os trabalhadores. O mencionado discurso ignora o fato de que aqueles que atuam com tais objetos, por serem historicamente alvos de críticas, talvez sejam os que mais incorporaram tais críticas, aproveitando-as de modo frutífero para repensar seus princípios, valores, teorias e métodos. Portanto, ultrapassaram a visão restritiva de conceber apenas um campo de aplicação especialmente focado nas empresas e indústrias. O conceito de “trabalho” hoje ocupa o foco da indagação do que seria fazer uma ciência psicológica voltada para o estudo dessa importante e central atividade humana e social, bem como para o “organizar” como processo inerente a toda constituição social.
            A partir dos processos seletivos, os profissionais começaram a se preocupar com várias questões, como a organização do trabalho, a análise de tarefas e de postos de trabalho, as condições de trabalho dos empregados, dentre outras. O centro das atenções se restringia às questões relacionadas às atividades e às tarefas, mas os limites profissionais ampliaram-se e questões outras foram se somando ao escopo inicial, como as políticas organizacionais de recompensas e punições e seus impactos nos sentimentos de justiça do trabalhador, em sua saúde e seu bem-estar, e na sua eficiência e efetividade. Como seria, então, possível fazer uma psicologia apenas voltada para o “trabalho”, sem pensar nas “organizações” em que ele ocorre?  
             É impossível, na prática, dissociar o conceito de “organizações” do conceito de “trabalho”. Um lócus diferenciado de trabalho, desejado por aqueles que anseiam por um emprego, são as organizações. Elas existem para possibilitar o alcance de metas dos seus membros-dirigentes (quer sejam proprietários ou agentes públicos no exercício do poder organizacional), parceiros de todos os status da organização. Embora algumas metas individuais se diferenciem de pessoa para pessoa, outras são comuns e compartilhadas. A sobrevivência da organização, do âmbito público, privado ou do terceiro setor, é recomendável e deve ser buscada por todos os seus membros que desejam um emprego. Dificilmente é possível pensar em atingir objetivos pessoais que não passem pelos objetivos coletivamente compartilhados.


Este texto é basedo no manisfesto "Psicologia do trabalho e das organizações: não atuamos pela cisão", da SBPOT, e todos os créditos autorais pertence a este autor.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A função psicológica do trabalho



 O homem e a mulher não são apenas produtores, mas também ‘atores’ envolvidos em diversos mundos e em tempos diferentes, vividos de forma simultânea. Mundos e tempos que as pessoas procuram tornar compatíveis entre si, esperando superar as contradições, e moldando-se a sua própria exigência de unidade. São todas essas atividades e adversidades  dos vários aspectos da vida que constituem o indivíduo e o trabalho, e desempenham um importante papel na vivência de cada sujeito. (...). 
As relações de trabalho, mantém uma co-dependência com a organização das relações sociais dos sujeitos, assim como, com suas próprias pré-ocupações, pós -  ocupações, e deliberações que cada pessoa formula a partir de seus conceitos já estabelecidos. (...). A apropriação psicológica da atividade profissional jamais poderá ser reduzida somente a uma interiorização cognitiva das propriedades do trabalho, mas irá presumir sempre de uma transformação das atitudes do sujeito, e de uma atribuição de valores que ele mesmo vai inserir. A própria constituição da identidade é o resultado de uma conquista do sujeito; ela passa por um reconhecimento do “Trabalhador no Homem.”  (...).  
O trabalho exerce uma função social no âmbito da produção de objetos e serviços, assim como, na produção de trocas sociais que são responsáveis pelos valores atribuídos, a estes primeiros, dentro de uma determinada sociedade. Já a sua função psicológica está configurada naquilo que se diz respeito à subjetividade do trabalhador. (...).O trabalho é uma ação e possui uma função psicológica justamente porque coloca o sujeito à prova de suas obrigações práticas e vitais com relação aos outros, a si mesmo e ao mundo. As diversas situações e relações vividas no âmbito do trabalho ocupam não apenas as propriedades do trabalho em si, mas também são resultantes de uma produção subjetiva, e participam de uma de série de elementos que ocupam um lugar na vida do indivíduo, e exercem uma função psicológica especifica. (...). 
As atividades do trabalho não são apenas produções; são obras, ações do próprio sujeito. São elas que alimentam seus instrumentos operatórios subjetivos e o desenvolvimento de seu sistema de atividades (...). O que o trabalhador produz não está somente na ordem do trabalho e do objetivo, está também na ordem da subjetividade, constituindo-o e deixando marcas na sua vida, e em tudo aquilo em que ele se realiza.(...).


Este texto é baseado no artigo, "A função psicologica do trabalho: breve análise através do olhar da Clínica da Atividade", escrito por Lana Lacerda Vieira.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

CFP alerta sobre testes psicológicos divulgados indevidamente na internet e pede providências à Polícia Federal

O Conselho Federal de Psicologia enviou, recentemente, ofício aos Conselhos Regionais informando ter conhecimento, desde 2008, de que vários sítios na rede mundial de computadores têm divulgado indevidamente testes psicológicos para leigos, inclusive, ensinando candidatos de concursos públicos como respondê-los para conseguir aprovação nas provas.
A partir disso o CFP diz ter dialogado com os provedores desses sítios esclarecendo sobre a legislação brasileira e informando que a utilização de testes psicológicos por profissionais não psicólogos incorre no cometimento da contravenção penal do exercício ilegal da profissão, haja vista que se trata de método ou técnica privativa do psicólogo.
Além disso o Conselho Federal de Psicologia entrou em contato com a Polícia Federal, para solicitar auxílio no caso dos provedores que não retiraram do ar, a pedido do CFP, os conteúdos indevidos e também para tomar providências em relação aos sítios que estão hospedados em provedores estrangeiros e, portanto, não precisam seguir a legislação brasileira.
Até o momento,segundo o Conselho Federal de Psicologia, a Polícia informou que está em diálogo com a Interpol para resolver o caso dos sítios estrangeiros e que está tomando as providências para o caso dos sítios brasileiros.
O CFP também realizou uma reunião com o Ministério Público Federal para discutir o assunto.




Fonte: www.crppr.org.br

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ergonomia

A ergonomia, reconhecida na luta pela saúde do trabalhador contra os acidentes e pela melhoria das condições de trabalho, é um conjunto de conhecimentos estruturado para responder a diferentes demandas. As contribuições da ergonomia, na introdução de melhorias nas situações de trabalho, se dão pela via da ação ergonômica que busca compreender as atividades dos indivíduos em diferentes situações de trabalho com vistas à sua transformação. Assim, o foco de ação é a situação de trabalho inserida em um contexto sociotécnico, a fim de desvendar as lógicas de funcionamento e suas conseqüências, tanto para a qualidade de vida no trabalho, quanto para o desempenho da produção.A  análise ergonômica do trabalho tem como fio condutor "o fazer" ( a atividade) do trabalhador inserido em um contexto real, objetivando apreender o trabalho efetivamente realizado, ou seja, como o homem se comporta para executar o que lhe é imposto pela organização do trabalho. Uma das contribuições importantes da análise da atividade reside no fato das ações estarem sempre inscritas em um contexto, tornando-se impossível compreendê-las fora dele.